Filipe Nyusi pede apresentação de mandantes e sindicato responde com um rapto nas barbas da Polícia

Foi raptado, há instantes, no centro da cidade de Maputo, mais um cidadão moçambicano de ascendência asiática. Não conseguimos apurar o nome da vítima. A informação disponível indica que se trata do proprietário da “Luxo Brindes” ou o filho.  A “Luxo Brindes” localiza-se na 𝗔𝘃. 𝗘𝗱𝘂𝗮𝗿𝗱𝗼 𝗠𝗼𝗻𝗱𝗹𝗮𝗻𝗲, p𝗿ó𝘅𝗶𝗺𝗼 a “𝗙𝗮𝘀𝗵𝗶𝗼𝗻 𝗪𝗼𝗿𝗹𝗱”, 𝗮𝗼 𝗹𝗮𝗱𝗼 𝗱𝗮 𝗟𝗮𝘃𝗮𝗻𝗱𝗮𝗿𝗶𝗮 𝗘𝘅𝗽𝗿𝗲𝘀𝘀𝗼, 𝗲𝗺 𝗳𝗿𝗲𝗻𝘁𝗲 𝗮𝗼 𝗕𝗖𝗜, 𝗲𝗺 𝗠𝗮𝗽𝘂𝘁𝗼.  A vítima teria sido surpreendida quando saía da loja. No local houve disparos. Segundo um vídeo amador posto a circular nas redes sociais, do outro lado da avenida,  é possível ver dois agentes da Polícia de Protecção, um dos quais a mexer telefone num gesto de quem estava, provavelmente, a pedir socorro ou a reportar  o caso, enquanto os raptores abandonavam o local com a vítima numa viatura de marca Toyota Ist.

Este rapto acontece três dias depois de o Presidente da República, Filipe Nyusi, ter desafiado a Polícia da República de Moçambique (PRM)  a trabalhar para a detenção e apresentação dos mandantes de raptos e outros crimes que assolam o país.

“O crime de rapto continua um desafio para o nosso Serviço Nacional de Investigação Criminal e, em geral, para a corporação da lei e ordem, mas tragam pelo menos um mandante. Hão-de ver que a narrativa vai mudar. Os mandantes são muito medrosos. Basta tomarmos uma certa medida coerciva, logo fogem. Alguns inventam viagens de repente e não mais regressam, são esses”, disse  Filipe Nyusi, na quarta-feira, 16 de Julho, em Maputo, durante 34º Conselho Coordenador do Ministério do Interior.

O Centro para Democracia e Direitos Humanos sempre defendeu que o combate aos raptos só seria possível com a detenção dos mandantes. É estranho que Filipe Nyusi venha falar da necessidade da detenção dos mandantes, quando faltam cinco meses para o fim do seu mandato.  

É o segundo rapto em um mês. O primeiro aconteceu em 26 de Junho, a alguns quilómetros do Comando-Geral da Polícia e do Ministério do Interior. A vítima foi um cidadão de nome Muhammad Mayet.  Os raptores faziam-se transportar numa viatura de marca Toyota Alfard, cor branca, com matrícula AIO 919. Empunhavam duas armas de fogo, nomeadamente uma pistola e uma AKM-47. À semelhança do que aconteceu hoje, no local houve disparos que culminaram com o ferimento de um cidadão que foi socorrido de imediato para o hospital.

Em 19 de Março, o ministro do Interior, Pascoal Ronda, disse que a Polícia da República de Moçambique (PRM) tinha registado um total de 185 casos de raptos e pelo menos 288 pessoas foram detidas por suspeitas de envolvimento neste tipo de crime, desde 2011. A cidade de Maputo apresenta maior tendência e incidência de casos criminais de raptos, seguida da província de Maputo e, por fim, Sofala, com registo de 103, 41 e 18 casos, respectivamente.

Brigada anti-raptos ainda não se faz sentir

Filipe Nyusi disse no dia 3 de Fevereiro do ano em curso, no seu discurso por ocasião da celebração do Dia dos Heróis Moçambicanos, que o Governo estava a trabalhar na formação dos elementos que fariam parte da brigada anti-raptos por si anunciada em Dezembro de 2020. Nessa altura, Filipe Nyusi disse que a formação estava a acontecer dentro e fora do país, fazendo passar a ideia de que o grupo já tinha sido criado. Ora, quatro anos depois do anúncio da criação da brigada e quase quatro meses após o anúncio da formação dos integrantes do grupo, o mesmo não se faz sentir, uma vez que os sequestros continuam à luz do dia e em lugares aparentemente seguros.

A brigada é vista como um elemento vital para o combate aos raptos, de tal forma que o anúncio da sua criação foi celebrado com euforia, sobretudo no seio da comunidade empresarial de ascendência asiática, que é a principal vítima dos sequestros. Todavia, quanto mais o tempo passa, com ele vai a esperança da operacionalização do grupo, pelo menos neste mandato que termina em seis meses.

A esperança desvanece, também, tendo em atenção que estamos em ano eleitoral, em que os dirigentes estão mais focados nas eleições e em questões de mera gestão do Estado, o que torna real o risco da não operacionalização da brigada neste mandato.

Em Fevereiro, o PR disse que o Governo estava a mobilizar recursos para a sua activação efectiva. Enquanto a brigada não é activada, a indústria lucrativa dos raptos continua a prosperar a olhos vistos. Para além de causar insegurança, a indústria dos raptos é responsável pelo aumento da taxa de desemprego, uma vez que muitos empresários estão a sair do país e a retirar os seus investimentos.

Outrossim, os raptos são a causa da retracção de investimentos, dado que estão a fazer de Moçambique um país perigoso para se ser empresário. Com o Estado enfraquecido , sem conseguir evitar os raptos, mas também sem capacidade de resgatar as vítimas, os empresários são obrigados a despender somas avultadas para a libertação própria ou dos seus familiares.

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